sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Fisioterapia no parto?

Recentemente, enquanto acompanhava um parto, uma enfermeira me chamou no cantinho e perguntou: "O que ela (a parturiente) tem que precisa da fisioterapeuta no parto? Esta doente?"
Então eu percebi o quanto a fisioterapia ainda é vinculada à reabilitação, a doenças e tão pouco conhecida como preventiva e resolvi escrever um pequeno texto para que vocês entendam o que uma fisioterapeuta faz num parto.

A fisioterapia é mais conhecida por seu enfoque na reabilitação, infelizmente muita gente ainda pensa que fisioterapia é coisa de doente, mas ela também atua no setor primário da saúde. O que isso quer dizer? Que a fisioterapia atua na promoção da saúde e prevenção, ou seja, não é coisa de doente, é para quem quer cuidar da saúde também. Por incrível que pareça o fisioterapeuta também atua no trabalho de parto, na preparação para o parto e no pós-parto, justamente com o objetivo de promover a saúde e prevenir disfunções.
Apresento para vocês a fisioterapia obstétrica!
O Ministério da Saúde, desde 2000, vem desenvolvendo um programa de humanização do parto, no qual se busca implementar técnicas menos intervencionistas, favorecendo o parto normal e é neste movimento pela humanização do parto que a fisioterapia obstétrica atua.
A fisioterapia na obstetrícia ainda é recente e vem se coinstruindo e se moldando à política de humanização do parto, atuando na prevenção e promoção da saúde, trabalhando para o empoderamento das gestantes e famílias, possibilitando assim a participação ativa da mulher em todo o processo de gestação e parto.

Durante o pré-natal, a fisioterapia atua principalmente no empoderamento da mulher, oferecendo informações e orientações sobre o processo de gestação e parto. Oferece meios para que a mulher conheça seu corpo, compreenda seu funcionamento e suas modificações no processo do parto, a fim de que ela desenvolva toda sua potencialidade. Proporciona a percepção de que o corpo ativo pode ser uma ferramenta para facilitar o trabalho de parto e parto e oferece uma vivência corporal destas possibilidades.

Faz parte da atuação da fisioterapia no pré-natal a preparação do períneo para o parto, com enfoque no período expulsivo, aprendendo a coordenar a prensa abdominal, o relaxamento perineal e a respiração, para que a mulher se sinta mais tranquila e segura, e saiba como realizar a sincronia necessária para o nascimento do bebê, abreviando assim o período expulsivo e ajudando a evitar lacerações.

Em um estudo realizado por Lopes em 2010, observou-se que a falta de preparação do períneo para o parto foi apontada por 63,4% de puérperas que apresentavam incontinência urinária, entendendo a fisioterapia no pré-natal como um fator de prevenção a distúrbios pós-parto, ou seja, a fisioterapia no pré-natal também previne a incontinência urinária e por reduzir as chances de laceração do períneo, também previne outras disfunções que podem ocorrer no pós-parto.

Agora você deve estar se perguntando: E durante o trabalho de parto, o que o fisioterapeuta faz?
Durante o trabalho de parto a fisioterapeuta dá suporte à parturiente, ajuda a lidar com a dor, utilizando técnicas não farmacológicas como a massagem, a crioterapia, a termoterapia e a neuroeletroestimulação transcutânea, mais conhecida como TENS. Estimula posturas que auxiliam na descida e encaixe do bebê e orienta exercícios respiratórios que influenciam de forma positiva a fase ativa do trabalho de parto, aumentando a tolerância da parturiente à dor, evitando o uso de fármacos durante o trabalho de parto e melhorando a evolução da dilatação, reduzindo significativamente a duração da fase ativa, protegendo assim o períneo de possíveis disfunções.
Em um estudo realizado com um grupo experimental de 50 parturientes, que adotaram posturas verticais, movimentos articulares gerais, mobilidade pélvica, relaxamento do períneo, coordenação do diafragma e estímulo da propriocepção e um grupo controle também de 50 parturientes, no qual não ocorreu a atuação do fisioterapeuta. Obteve-se uma diminuição significativa do tempo de trabalho de parto no grupo que recebeu acompanhamento fisioterapêutico, sendo de 5 horas e 16 minutos para o grupo tratamento e 8horas e 28 minutos para o grupo controle.
Atualmente alguns hospitais do SUS já contam com a fisioterapia na sala de parto, e alguns médicos particulares já recomendam a fisioterapia obstétrica para suas clientes, mas este trabalho ainda é pouco conhecido, embora já esteja comprovada sua eficácia.
O Brasil vem passando por uma mudança de conceitos e paradigmas em relação à humanização do parto. Mudanças estão surgindo, brotando como discretas margaridas em diversos centros de atendimento à gestante e a fisioterapia apresenta importante função nesta mudança, propondo meios para que a mulher se torne sujeito ativo do seu processo de gestação e parto, atuando na promoção da saúde e prevenção de disfunções decorrentes da gestação e do parto.

Referências consultadas:
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